ACAPOR – 24 horas de downloads ilegais

Anteontem, dia 20 de Janeiro de 2009, a Associação de Comércio Audiovisual de Portugal (ACAPOR), juntou-se em Lisboa, no Largo de Camões, onde montou uma barraquinha para protestar contra a “pirataria online” que afirma estar a “destruir” o negócio dos videosclubes que representa.

Munidos de um portátil e uma placa de banda larga móvel para uma maratona simbólica de 24 horas a “sacar filmes”, mostrando que estão a levar a  efeito uma actividade ilegal sem que as autoridades tomem qualquer atitude, sentido-se eticamente autorizados para realizar tais actos considerados ilegais.

Relembramos que os clubes de vídeo tiveram a sua maior expansão na altura em que se  faziam copias ilegais a partir de vídeo-cassetes alugadas nos mesmos. Com o recente progresso tecnológico, deixou de fazer sentido dirigir-se aos clubes de vídeo para esse fim, uma vez, que com meia dúzia de cliques pode-se fazer o mesmo com qualidade similar mas a menores custos.

barraquinha da ACAPOROs videoclubes estão ultrapassados, estagnados no tempo e tentam sobreviver com modelos de negócio impróprios para esta época. Torna-se, pois, fundamental adaptar os modelos de negócio aos tempos actuais e aproveitar o potencial das novas tecnologias ao invés de esperar que se criem e apliquem leis e/ou se adoptem medidas ineficazes que apenas servirão como remendo temporário.

Consideramos totalmente inapropriado, apontar o dedo só à “pirataria online” como o único causador da falência dos videoclubes e lojas semelhantes, quando existem cada vez mais serviços de “Video On Demand” disponibilizados pelos fornecedores de televisão, que permitem visualizar um filme a preços semelhantes ou mesmo mais baixos, com um simples clique de um botão, sem sair do conforto da nossa casa e sem preocupações de prazos de devoluções.
É fácil de entender a razão destas falências, colocando-se na posição de um consumidor em que pode optar por:

  • dirigir-se à loja mais próxima => alugar o filme => voltar para casa => visualizar => devolver no dia a seguir, dirigindo-se novamente à loja;
  • sentar-se no sofá => pegar no telecomando => escolher o  filme => visualizar;

Existem serviços de “Video On Demand” que ainda disponibilizam descodificadores digitais com possibilidade de gravar inúmeras horas de vídeo para visualizar mais tarde e as vezes que o consumidor o desejar.

Empresas como o google já aprenderam há muito a adaptarem-se à realidade actual e a tirar partido da Internet e das suas liberdades inerentes. Exemplo disto é o Youtube, uma plataforma de partilha de vídeos disponibilizados pelos utilizadores de forma gratuita, que se encontra em permanente evolução: recentemente com divulgação de concertos ao vivo e futuramente com serviços de aluguer de vídeo. Mais uma prova que os modelos de negocio dos videoclubes actuais estão estagnados no tempo, enquanto outros aproveitam as tecnologias para seu beneficio ao invés de apontar armas ao governo e culpar  a “pirataria online”.

Questionamos como a ACAPOR e seus associados pensam acabar ou diminuir a tal “pirataria online”?

Recorrendo a novas leis que cortem o acesso à Internet e criminalizando do download ilegal?
Para criminalizar um individuo é necessário provas! A não ser que se desrespeite todo um conjunto de direitos do cidadão, entre eles o direito à presunção de inocência.

E como obter tais provas? Para tal, é necessário proceder à escuta de tráfego dos consumidores, tarefa deveras bastante complexa e imensurável, sendo necessário uma enorme capacidade de computação e de recursos humanos.
Não existindo algoritmos de filtragem ou identificação de tráfego minimamente fiáveis. O acto de filtragem ou de identificação de infractores torna-se bastante duvidoso e evolve um enorme investimento de recursos. Investimento que poderia ser utilizado em outras áreas de longe mais importantes.

Para os leitores que julguem ser possivel fazer tal filtração ou identificação facilmente, fornecemos a seguinte explicação: Quando se descarrega um ficheiro da Internet ou pela rede, este não vêm inteiro pelo cabo, sendo fragmentado em milhares ou milhões de pacotinhos de dados para viajar pela rede. Estes pacotinhos também não chegam ao nosso computador sequencialmente num ficheiro, sendo intercalado por outros pacotes de rede provenientes das mais variadas aplicações no computador, entre eles serviços do sistema operativo, clientes, mensagens instantâneas, navegador de Internet, etc. resultando numa “salada russa” de pacotes a sair e a entrar no nosso PC pelo cabo de rede. Agora basta juntar centenas de utilizadores ligados ao ISP (acrónimo para Fornecedor Serviço de Internet) e tentar analisar esta enorme “mistela” de dados a passar a velocidades próximas da luz pelo servidor de Internet.

Por consequência, qualquer filtragem realizada para impedir o download ilegal seria ineficaz e iria causar o bloqueio de tráfego legitimo e legal, algo próximo da censura na Internet.

"por uma internet livre"Consideramos uma enorme falsidade e um escândalo o facto da manifestação da ACAPOR envergar-se aplacares e panfletos com a frase “por uma internet livre”, quando na realidade o objectivo desse mesmo protesto é lutar contra o “download ilegal” que resultará na censura e atentados contra os direitos dos consumidores e sua privacidade. Lamentamos que se recorra a falsos sloganes de liberdade para beneficio comum de lobbies e seus monopólios.

A  ACAPOR atira pedras a telhados de vidro. Não estando preocupados com a prática do crime de “pirataria”, mas sim com o problema da “pirataria” já  não os financiar economicamente. Como tal vestem a pele de cordeiro e  fazem-se de coitadinhos marcando encontros com partidos e organizando estas infelizes manifestações.

Mas o problema não está na ACAPOR que está a fazer, por assim dizer, o seu trabalho (sujo), o problema está  em quem lhes dá crédito, em quem é levado a crer que esta entidade actua de boa fé.

Obviamente, que estas entidades são um negócio montado para a falsa protecção dos direitos de autor, cobrando toda a sorte de taxas para criar a falsa ilusão de que o autor está protegido. Quando perante as novas tecnologias este modelo de protecção de autor é praticamente impossível.

Uma vez, que não conseguem legitimar mais o seu negócio pressionam o governo e Assembleia da República para que tome medidas abusivas, como o corte ilegítimo e sem meios de prova da Internet.

Importa, pois, denunciar os caminhos traiçoeiros que a ACAPOR tenta delinear aos seus associados e alertar que a solução para este complexo problema não está na exclusão tecnológica feita por instituições adoc, sem que se garanta quaisquer oportunidade de defesa, negando-se os mais básicos direitos humanos.

A solução está sim, em se potenciar a Internet como mecanismo de aproximação dos povos. Devendo esta funcionar como distribuidora de cultura, informação e ideias, de forma livre e igualitária.

Convidamos  todos os nossos leitores a deixarem a sua sincera opinião relativamente a esta manifestação da ACAPOR e os seus reais objectivos, de forma a que seja denunciado por todos esta verdadeira falta de bom senso desta entidade.

(Imagens obtidas via TEK-Sapo)


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30 comentários de ACAPOR – 24 horas de downloads ilegais

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