Sou um novato no Facebook. Não tenho dicas para plantar couves mais depressa ou esconder carros blindados. Mas tenho uma ideia do que está por trás da interface e para onde vai cada click, foto e tecla que lhe mandamos.
A primeira impressão que temos quando criamos uma página no Facebook é que nos tornámos clientes de uma grande empresa que nos presta esse serviço. Gratuitamente. Maravilha. É uma impressão errada. O Facebook, tal como o Blogger, o YouTube, o Google e tantos outros, são empresas e têm clientes, é certo, mas os clientes não somos nós. São quem lhes paga os anúncios. Nós somos o produto. O Facebook é uma frota de pesca, as empresas que lá anunciam compram o peixe e nós somos sardinhas. Pensem nisso sempre que lá forem. “Sou uma sardinha; isto é a rede”. É meio caminho andado para evitar dissabores.
Outra falsa impressão é a do Facebook ser um sítio onde conversamos com amigos e lhes mostramos coisas giras. Daquelas que se mostra a amigos, em sussurros no café ou gargalhadas na sala de estar. Mas enquanto nós queremos partilhar certas coisas só com algumas pessoas, ao Facebook interessa é atrair gente com os detalhes da nossa vida privada. Quanto mais olhos mais anúncios e mais negócio. É por isso que as opções de privacidade estão todas, por omissão, no equivalente WWW das cuecas à mostra*. E se bem que haja muitas opções para trancar e isolar a informação (1), no fundo vai tudo parar aos servidores do Facebook e eles lá fazem daquilo o que quiserem.
E lembrem-se do logout. É no menu “Account”, a última opção. Depois de ver o que os amigos andaram a fazer, responder a comentários e pedir um balde para ordenhar a vaca é sempre bom terminar a sessão. Não só evita que alguém use o computador para remodelar o vosso perfil mas também que o Facebook vos siga pela Internet e vá instalando coisas sem que lhe peçam. Um “erro”, segundo os responsáveis (2), mas “erros” destes acontecem com alguma frequência. E descuidar-se na ‘net é como descuidar-se na piscina. Espalha-se e pronto, não há nada a fazer (3).
Não quero dizer que o Facebook seja mau. Apenas que é público. Aquelas opções todas parecem proteger os nossos dados mas, na realidade, tudo o que lá pomos deixa de estar sob o nosso controlo. Ainda assim, o Facebook é bom para encontrar pessoas que já não vemos há tempos, fazer novos amigos, partilhar ideias e discutir coisas. Só não é o sítio certo para contar a bebedeira da semana passada, dizer com quem se namora ou deixou de namorar, nem mostrar fotos que não se quer que o patrão veja. Se encararmos todas estas redes sociais como sítios públicos (4) podemos tirar bastante proveito delas sem chatices. Nem é preciso andar disfarçado. Basta só partilhar lá o que não nos importaríamos de partilhar com estranhos na rua.
*Sei que hoje em dia isso já não quer dizer muito, mas foi a analogia que me ocorreu. Estou a ficar velho…
1- AllFacebook, 10 New Privacy Settings Every Facebook User Should Know
2- MacWorld, Facebook’s new features secretly add apps to your profile
3- The Independent, Facebook can ruin your life. And so can MySpace, Bebo…
4- Pelo menos até o Diaspora estar operacional.