Disto e daquilo, 2.

Notícias

A propósito das cheias na Indonésia nas Filipinas, ouvi ontem no noticiário da TVI que se prevê uma precipitação de 40cm por metro quadrado. É como o limite legal da velocidade ser 120Km/h por automóvel ou alguém ter a idade de 18 anos por pessoa. Também estavam a evacuar as pessoas. A menos que estejam com problemas graves de prisão de ventre, parece-me preferível evacuar as zonas afectadas pelas cheias. Outra calinada irritante, e permanente durante a época de incêndios, é a treta dos cinco meios aéreos, dois meios aéreos ou, quem sabe, um meio aéreo. Caros jornalistas, os meios são os recursos em geral. Não é um meio por cada avião ou helicóptero. Já agora, deixo também um pedido aos agentes da autoridade para que, quando usarem um cão para farejar drogas, digam que usaram um cão. Não chamem “binómio” ao bicho só porque vem com um guarda a segurar a trela. Se tiverem vários cães vai ser o quê? Um polinómio?

Multa

O grupo Jerónimo Martins foi condenado a pagar a multa máxima pela venda de quinze produtos abaixo do seu custo na promoção de dia 1 de Maio. Terão de pagar trinta mil euros. No entanto, é provável que contestem a decisão em tribunal, assim que conseguirem parar de rir.

Código

A Maria Madalena Teodósio tem tentado explicar algumas coisas de evolução ao Jónatas Machado, entre as quais que o código genético é uma invenção nossa e não uma prova de que o ADN foi criado pelo menino Jesus (1). Desejo-lhe boa sorte na ingrata tarefa e aproveito para apontar que o código que usamos para designar o ADN não são as quatro letras – A, C, G, e T – correspondentes às quatro bases dos nucleótidos. Temos também o Y para qualquer uma das pirimidinas (C ou T), o R para as purinas (A ou G), W, S, K, M, e assim por diante. E como N designa qualquer nucleótido, todos os genes podem ser escritos como NNNNN…(2) É realmente um código inteligente, mas um código que serve para trocarmos, entre nós, informação acerca dessas moléculas. À citosina tanto faz se lhe chamamos C, M, S ou X.

Ordenados

Um dado que, aparentemente, surpreendeu alguns jornalistas, foi o de que «Serralheiros, canalizadores e torneiros mecânicos podem conseguir ordenados mais altos do que arquitetos ou advogados» (3). Além do problema metodológico de considerarem os valores extremos de três mil ofertas de trabalho como representativos seja do que for, não acho estranho que um canalizador ganhe mais do que um recém-licenciado em direito. Ser canalizador não é trivial e só é canalizador quem tiver experiência profissional, tendo demonstra não só que sabe mas que sabe fazer. Um recém licenciado teve apenas a experiência de trabalhar para si. Falta-lhe ainda mostrar que se safa quando aquilo que faz tem consequências para os outros.

Pirataria interplanetária

Pouco depois da NASA pôr no YouTube um vídeo da aterragem* do Curiosity, o vídeo foi retirado por violação de copyright. A queixa veio de uma empresa privada de notícias que tinha usado o vídeo da NASA, gratuitamente, e tinha-o registado como seu no sistema de gestão de conteúdos do YouTube (4). Isto mostra três coisas. Primeiro, a deturpação de valores acerca da distribuição. As alegações de direitos exclusivos, mesmo sem fundamento, têm toda a prioridade enquanto que o direito de expressão e de acesso à informação são tão irrelevantes que até automatizam o bloqueio e quem for injustamente penalizado que se amanhe. Enquanto quem faz estas alegações falsas não sofre consequências, um cidadão britânico vai ser vai ser extraditado para os EUA por ter um site com ligações a ficheiros sob copyright alojados noutros sítios, algo que nem é claro que seja crime no seu país mas que lhe pode dar cinco anos de cadeia nos EUA(5). Em segundo lugar, este episódio mostra como os monopólios sobre a distribuição afectam mesmo os produtores que não os querem. A NASA tem peso para resolver estas coisas rapidamente, mas muitos não têm essa facilidade (6). E, em terceiro lugar, mostra que se pode produzir obras caras sem precisar de monopólios sobre a distribuição. Pôr o Curiosity em Marte custou 2500 milhões de dólares. Se até ciência a este nível se pode fazer sem direitos exclusivos não vejo desculpa para filmes e canções terem esses privilégios legais.

* Vem de terra, e não de Terra, por isso é que é amaragem quando cai no mar na Terra e aterragem quando cai na terra em Marte.

1- Neste post, com os resultados esperados. Talvez melhor seja dar uma olhada no blog da Maria Madalena Teodósio.

2- IUPAC ambiguity codes.

3- Ofertas de emprego para soldadores e mecânicos com salários mais altos que doutores e engenheiros

4- Motherboard, NASA’s Mars Rover Crashed Into a DMCA Takedown

5- Huffington Post, Richard O’Dwyer Memo Leaked To TorrentFreak Reveals MPAA’s Insecurity In Piracy Fight

6- Lon Seidman, via BoingBoing.

Fonte Original


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