
A recente divulgação de novos documentos por parte do site de fugas de informação Wikileaks colocou os políticos habituados à diplomacia por obscurantismo de cabeça perdida e a secretária de estado Hillary Clinton a fazer contactos de ultima hora antes da divulgação, de certo a pedir desculpas por “inconveniências” que se iriam saber.
Apesar de mais uma vez ter havido tentativas de colaboração com o governo dos EUA para remoção de informação sensível, a resposta foi invariavelmente negativa e agressiva.
Desta vez no entanto, e através de uma estreita colaboração com orgãos de comunicação social respeitados como o Le Monde, o El Pais, o The Guardian, o Der Spiegel e o The New York Times, com os quais partilhou toda a informação disponível, o Wikileaks tentou mitigar as criticas do passado deixando que os jornalistas profissionais de politica internacional desses orgãos escolhessem a informação com maior relevo, filtrando nomes e pontos mais sensíveis, para posterior divulgação nos seus jornais em simultâneo com a colocação no site do Wikileaks.
Mesmo assim a exposição indesejada alimentou a fúria de políticos e seus pares, habituados ao conforto do secretismo que encobria as suas acções, e neste momento eles tentam por todos os meios pôr cobro à ameaça que o Wikileaks representa ao seu poder instituído.
As companhias que disponibilizavam serviços ao Wikileaks estão uma após outra a sucumbir às pressões e a privar-lhe o uso desses mesmos serviços. Desde a EveryDNS, que disponibilizava o nome de domínio do Wikileaks, passando pela Amazon que acolhia o conteúdo do site, até à Paypal que recebia os donativos.
Se no caso da EveryDNS a desculpa de que os ataques distribuídos de negação de serviço (DDOS) impactavam a sua própria infraestrutura pode ser compreensível, já nos casos da Amazon e da PayPal as suspeitas de pressões governamentais é gritante.
A Amazon alega que o fêz porque o Wikileaks não é proprietário do copyright do conteúdo disponibilizado (ao mesmo tempo que se aproveita de conteúdo alheio para promover as suas próprias vendas copiando os conteúdos da Wikipédia). Se esta fosse realmente a razão já o teria feito antes e não seria necessário informar o staff do Senador Joe Lieberman, o “chairman” do “Homeland Security and Governmental Affairs Committee”, da decisão de banir o Wikileaks. Mas tais procedimentos indiciam que esta acção foi forçada pelo governo Norte Americano, que não se coíbe de exigir o mesmo a todas as outras empresas nacionais ou estrangeiras que tenham ligações com o Wikileaks.
Apenas dois dias após a Amazon, também a sua congénere PayPal chegou à conclusão que o Wikileaks não cumpria os seus termos de uso. A fama da PayPal no tratamento abusivo dos seus clientes, congelando contas sem razão aparente, é bem conhecida, mas torna-se por mais evidente que neste caso não há coincidências e o critério é por certo originário nos gabinetes de Washington.
O que os políticos de Washington não perceberam, nem o seu pessoal lhes parece saber ensinar, é o mesmo que a industria das MAFIAA‘s anda há 10 anos a não querer entender com a lição que deviam ter aprendido no caso do Napster.
A industria musical, ao deparar-se com uma mudança de paradigma, em vez de se adaptar à nova realidade decidiu combater o que considerou um inimigo e não uma nova oportunidade de negócio. Eventualmente conseguiu destruir o pioneiro de uma nova era e o Napster fechou. Mas quando algo cativa realmente as pessoas não se consegue pôr o génio de novo na lâmpada, e no lugar de um surgiram múltiplos serviços similares ou melhores. Na sua cegueira passaram os últimos 10 anos a encerrar “descendentes” do Napster sem conseguirem entender que sempre que conseguem fechar uma porta dez janelas se abrem no seu lugar.
O que os governos, nomeadamente o dos EUA, estão a tentar fazer ao Wikileaks é exactamente o mesmo e vai ter exactamente o mesmo resultado.
As massas provaram o sabor da transparência, mesmo que por portas travessas, e sentiram o cheiro a podre que está por trás de muitos governos e do modo como estes nos governam pela mentira, nos levam a guerras forjadas, a crimes de guerra ocultados, a negociatas diplomáticas para favorecer grandes grupos económicos, a violações dos direitos humanos, a um universo de podridão moral em que os senhores do mundo chafurdam de sorriso na cara com apertos de mão e palmadinhas nas costas em cimeiras e jantares diplomáticos.
Os governos deste mundo deviam preocupar-se mais em não ter podres para esconder do que a tentar destruir quem os expõe, a tentar uma diplomacia de verdade, confiança e bom senso em vez de uma diplomacia de guerra fria pejada de mentiras, dissimulações e traições.
O ataque ao Wikileaks está a roçar o ridículo e a administração Obama está a repetir os mesmos erros do passado da administração Bush. Erros como a tentativa de queimar na praça publica a ex-agente da CIA Valerie Plame Wilson de modo a desacreditar o seu marido, o ex-embaixador Joseph C.Wilson, por este ter revelado publicamente que alguns relatórios sobre armas de destruição maciça, nos quais se baseou a decisão de travar a guerra do Iraque, eram falsos e que a Casa Branca sabia disso. Aliás, está actualmente em exibição nas salas de cinema Portuguesas o filme Fair Game (Jogo Limpo) que conta em detalhe os factos sobre este caso que é emblemático do modo como estes assuntos são tratados pela maquina governamental americana.
Desta feita o visado é o fundador e cara visivel do Wikileaks, Julian Assange, que convenientemente tem vindo a ser alvo de uma campanha de intimidação e desacreditação com os típicos truques baixos perpretados por agentes dissimuladas das secretas deste mundo. Uma campanha com tácticas que incluem acusações empoladas para o nível da violação (que na realidade nada têm a ver com isso) a emissão de um mandato de captura internacional pela Interpol como se de um perigoso mafioso se tratasse (e que afinal só foi pedido porque a lei Sueca não permite que se prestem depoimentos não presenciais), o congelamento dos seus fundos de defesa em países supostamente neutrais, chegando até às ameaças de morte por parte de alguns políticos e afiliados entre outras.
Ao demonizarem o representante e, na sua retórica, equipararem o Wikileaks a uma organização terrorista, os EUA correm o risco de inadvertidamente criarem um mártir caso algum estado que ladre menos e morda mais decida realmente tomar medidas extremas contra Julian Assange.
No seu desespero os EUA estão a recorrer a tácticas similares às usadas pela China e que antes tão avidamente criticaram, incluindo o bloqueio do Wikileaks em redes do estado, mesmo que de uso publico, a intimidação das suas próprias tropas para que não o consultem (talvez com receio que percebam que estão a travar uma guerra construída à base de mentiras), e até a ameaça a estudantes, cujo mercado de trabalho esteja focado no sector do estado, de não virem a conseguir um emprego caso discutam o assunto nas redes sociais.
Talvez um dos documentos Chineses que aparece na fuga e que indica que a China vê a Internet como algo controlável esteja a dar confiança e a abrir o apetite à vontade de censura crescente por parte dos governantes dos EUA, mas no fundo estão a cometer o mesmo erro que as MAFIAA’s cometeram há 10 anos atrás.
Os primeiros sinais disso mesmo estão já em marcha, com promessas de novos sítios similares a caminho, com espaços já reservados, e a descentralização em massa do Wikileaks, que conta já com uma extensa lista de clones.
Posto tudo isto, vendo que a censura do Wikileaks se começa também a espalhar a Portugal, e tendo em conta os valores que defende a favor da Transparência e contra a Censura, tanto na Internet como fora dela, o Partido Pirata Português não podia agir de outro modo e decidiu aliar-se ao movimento anti-Censura passando também a disponibilizar um “espelho” de ligação ao Wikileaks por DNS no sub-domínio:
http://wikileaks.partidopiratapt.eu
Terminamos com dois vídeos a ver com atenção:
Opinião de um dos grandes lideres americanos do passado
sobre o valor da transparência e os males do secretismo e obscurantismo.
Um defensor da liberdade de expressão também ele silenciado…
Entrevista com Julian Assange no TED sobre a importância da Wikileaks



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