
Vote ou cale-se”
Photo by William Murphy CC BY SA
Quando há eleições, costumo fazer um apelo ao voto. Desta vez não é diferente.
Entristece-me ouvir pessoas dizerem que não vale a pena. Compreendo o ponto. A desresponsabilização da maioria da nossa classe política tornou os cidadãos incrédulos.
Mas vale a pena ir votar, sim. Porque sabemos que, apesar de tudo, a vontade dos cidadãos ainda manda.
- O aumento exponencial da taxa da cópia privada, que o PS queria impor, não se concretizou porque os cidadãos disseram não (#PL118)
- O ACTA não passou porque os cidadãos disseram não.
As pessoas que governam este país e que governam a união europeia estão lá porque os cidadãos os colocaram lá.
Há muitas pessoas zangadas com o Governo deste País (e com razão), mas mesmo que estas eleições fossem nacionais, que não são, o chamado voto útil seria sempre abjecto.
Foi o voto útil que nos trouxe aqui: nas últimas décadas, temos andado num ping pong desenfreado, a fazer lembrar o texto do Eça de Queiroz. Está o PSD no poder, as pessoas queixam-se e na próxima escolhem o PS. Está o PS no poder, as pessoas queixam-se e na próxima escolhem o PSD. E não passamos disto. As pessoas sempre a queixarem-se, a ver a vida cada vez pior e a votar sempre nos mesmos…
“Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder… O poder não sai de uns certos grupos, como uma péla que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos.” – In “Habilitações necessárias para ministro“
As eleições europeias são muito importantes porque é na Europa que se tomam decisões que depois são transpostas para a lei nacional (vejam o caso da taxa da cópia privada, o DRM, o ACTA, o TTIP, etc).
Compreendo que pode ser difícil aos cidadãos identificarem-se completamente com tudo o que um partido diz. Neste caso, talvez ajude pensarem numa área particularmente importante para vós, e olhar para o que os vários partidos defendem nessa área. Outro exercício que pode ajudar é em vez de pensarem qual o melhor partido, pensarem qual é o menos mau.
Qualquer que seja o vosso modelo de escolha, votem e votem num partido por defender algo muito importante para vós, mesmo que não concordem com tudo, ou votem no “menos mau”, mas não usem o vosso voto para castigar o partido com o qual estão zangados.
Temos décadas de história política neste País que provam que o voto útil só beneficia os que “alternadamente possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder“.