Treta da semana: iPad

A Apple lançou esta semana o iPad, que é basicamente um iPhone gigante. Como era de esperar da Apple, é imensamente cool e integra-se sem falhas com as outras iCoisas todas. É um ecrã táctil com pouco mais de um centímetro de espessura, 25 cm de diagonal e menos de um quilo de peso. Gostava ter um computador assim, se não fosse a aldrabice.

O iPad é um computador amputado. Apregoam-no como um meio excelente para navegar na Net mas, por causa da guerra entre a Apple e a Adobe, não é compatível com Flash. Mesmo não gostando de Flash parece-me que um browser sem Flash é uma treta. Não tem interface USB. No iPhone ainda havia a desculpa de ser um telefone, muito pequenino e assim. Mas o iPad tem o tamanho de uma revista. Cabia lá perfeitamente um buraquito ligar um pendisk, disco externo ou impressora. Não tem leitor para cartões de memória nem permite usar a rede para copiar ficheiros de outro computador. É como o iPhone. Para pôr algo no iPad ou no iPhone é preciso ir pelo iTunes e dá vontade de dizer iCaramba, que raio de coisa.

Mas a maior treta não é culpa da Apple. Isto funciona. Vendem hardware aleijadinho, prendem os clientes ás lojas da Apple e ganham imenso dinheiro. Espertos. A maior treta é que tanta gente aceita estas coisas. Não só da Apple. Os leitores de DVDs são fabricados para funcionar com discos de qualquer região mas, quando são vendidos, configuram-nos para só funcionar com os discos dessa região. Quem tem o Kindle aluga livros à Amazon convencido que os comprou e os telemóveis são quase todos vendidos presos a uma operadora.

É perigosa esta ideia de que o fabricante pode ditar como usamos o que é supostamente nosso. Não pela imposição de obstáculos técnicos, porque se os consumidores estiverem atentos e o mercado for competitivo esse problema resolve-se sozinho. Mas pela aceitação de obstáculos legais. O Artigo 218º do Código do Direito de Autor e Direitos Conexos estipula que «Quem, não estando autorizado, neutralizar qualquer medida eficaz de carácter tecnológico, sabendo isso ou tendo motivos razoáveis para o saber, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 100 dias.» Isto mesmo quando a neutralização é necessária para usufruir de um direito concedido pela lei, como fazer cópias de segurança dos jogos que se comprou ou para ver um DVD comprado no estrangeiro.

O sucesso comercial destas coutadas, dos telemóveis ao Kindle e iPhone, não é a causa do problema, mesmo que ajude a perpetuar o mal. O pior parece-me ser o desconhecimento das potencialidades desses aparelhos. Todos sabem que um livro tanto dá para ler no campo como na praia. Ninguém ia acreditar que o tabuleiro de Xadrez que comprou é incompatível com as Damas. Mas se o leitor de DVDs não dá para ver o filme comprado em Macau ou se o iPad só corre programas comprados no iTunes encolhem os ombros e pensam que tem de ser mesmo assim. Mas não tem. É aldrabice.

Links:

Guardian, Apple iPad: what it doesn’t have, via o Friend Feed da Paula Simões.

Apple, iPad

Editado a 1-2-10 para corrigir um “cavia”. Obrigado ao Mats pelo aviso.

Fonte Original


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